Todo mundo sabe que Neymar é o principal jogador da Seleção Brasileira de futebol. Porém, até agora, na Copa do Mundo da Rússia, ele ainda não fez uma atuação que o coloque no patamar que ostenta. É verdade que Neymar ficou parado por três meses em virtude de uma lesão no pé direito e não está 100% na plenitude técnica e física. Mesmo assim, Neymar podia ser menos individualista em campo e jogar de forma mais coletiva. Isso sem falar nas tentativas infrutíferas de "cavar" faltas e xingar os adversários e a arbitragem. Neymar é o craque rico e mimado do Brasil, amado por uns e odiado por outros milhões de torcedores. Ele é lembrado pelos cortes de cabelo, a parceria com famosos, o namoro com Bruna Marquezine e a participação em vários comerciais de TV.
Para Elias Aredes Junior, do portal soderbi.com.br, Neymar "expressa uma característica da nossa sociedade. Traduzindo: a infantilização da população adulta no Brasil. Não se iluda. Acontece com Neymar, comigo, com você, com qualquer um". O analista prossegue: "Antigamente, o jogador de futebol tinha um roteiro básico. Oriundo da pobreza, atuava em campos de terra, em condições adversas e superava obstáculos, conseguia um contrato com bons times, jogava na Europa e triunfava. Tudo sozinho. Sem o auxílio de ninguém. No máximo, um advogado ou parente para ajudar nos contratos. Amadurecia a forcéps". E na atualidade? Aredes Junior explica: "Existem as histórias de pobreza, superação e de auxílio aos familiares. O dinheiro automaticamente provoca auxílio que vem de todos os lados: empresários, assessores de imprensa, bajuladores. Não é somente com Neymar. É com todos".
Considero que o técnico Tite, pela inteligência, competência e experiência que possui para comandar o grupo brasileiro, devia enquadrar o craque mimado da Seleção Brasileira e não atuar como um simples paizão, que passa a mão na cabeça e releva os erros do filho querido.
A Neymar precisa ser dito que ele tem direitos e deveres, leia-se limites, assim como qualquer pessoa, para suportar as adversidades impostas pela vida e, no caso, as críticas da imprensa pelo mau desempenho nos jogos. O futebol é um esporte coletivo. "A recusa de muitos em aceitar o lado amargo da vida ou de um jornalismo crítico com o seu time do coração ou da Seleção é quem deseja viver um conto de fadas. Eterno. Quer ser tratado como um bebê ou aluno de pré-primário. Quer atenção total e irrestrita. Individualista nas pequenas coisas do cotidiano", relata Aredes Junior.
Maradona e Zidane, ambos com 26 anos, lideraram Argentina e França, respectivamente, nos títulos mundiais das suas seleções em 1986 e 1990. Com 28 anos, Romário foi peça fundamental no tetra do Brasil em 1994. O Neymar mimado e protegido mostra imaturidade e, por enquanto, prefere chorar, como ocorreu na conquista da medalha de ouro olímpica, no Rio de Janeiro, em 2016, e após a vitória sobre a Costa Rica neste Mundial da Rússia. "Neymar é o espelho do que somos. Não como detentor de bens materiais, mas como alguém que se recusa a crescer. Odiamos o camisa 10 da Seleção Brasileira, não gostamos de encarar os nossos defeitos como sociedade em carne e osso. Isto não há taça que consiga encobrir", avalia Aredes Junior.
Em Futebol ao Sol e à Sombra, o saudoso escritor uruguaio Eduardo Galeano afirma que "às vezes, o ídolo não cai inteiro. E às vezes, quando se quebra, a multidão o devora aos pedaços".